"Abel Salazar (1889-1946), médico cientista, artista plástico, filósofo, ensaísta e professor universitário é um caso singular no panorama cultural português e uma das personalidades mais prestigiadas da I República, que não pode ser avaliado apenas sob uma perspectiva meramente disciplinar.
Abel Salazar não só aprofundou o estudo do corpo biológico, através da microscopia, como estreitou os laços com o corpo social através da prática artística, recorrendo a várias técnicas - o desenho, a pintura, a escultura -, como produziu uma significativa obra teórica, onde convergem arte, ciência e filosofia, organizando deste modo um corpo de saber deveras singular. Para pensar a sua obra no presente é importante entender a coesão interna do seu discurso e da sua prática interdisciplinar e a relação que o artista-cientista estabelece com os movimentos artísticos mais relevantes da época. Nuns casos de empatia (como é o caso do impressionismo) noutros de oposição e corte ideológico (como é o da «arte pela arte» modernista), Abel Salazar nunca se identificou completamente com nenhuma corrente artística.
A exposição 'Transparência - Abel Salazar e o seu tempo, um olhar', uma iniciativa da Comissão Nacional para a Comemoração do Centenário da República, é organizada em torno da obra plástica de Abel Salazar. O seu objectivo principal era contribuir para uma melhor compreensão e posicionamento histórico do trabalho de Abel Salazar à luz do pensamento actual. Através dela foi dada ao público, pela primeira vez, a possibilidade de confrontar um significativo número de obras suas provenientes da Casa-Museu Abel Salazar e de colecções particulares, com obras de outros artistas, alguns dos mais proeminentes da época, pertencentes às colecções do Museu Nacional de Soares dos Reis, do MNAC - Museu do Chiado, da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, da Câmara Municipal de Matosinhos e de várias colecções particulares." Manuel Valente Alves, comissário da exposição
O presente livro-catálogo reúne documentação completa sobre a exposição e as peças expostas, incluindo vistas da montagem e projecto de arquitectura, textos de abertura de Artur Santos Silva, João Brigola, Filipe Serra e Graça Filipe, e ensaios de Manuel Valente Alves, comissário da exposição, Maria do Carmo Serén, historiadora e José Luís Porfírio, crítico de arte e historiador.